sábado, 27 de dezembro de 2008

Inferno dantesco

Assisti no dia de natal a um filme nada natalino: Gomorra. Essa palavra nos remete imediatamente ao templo da luxúria documentado no antigo testamento. Local de muito sexo, drogas e rock'n'roll. Só que a Gomorra do título tem mais a ver com a babel violenta da Scampia, um bairro periférico da cidade de Nápoles, na Itália, marcado por um conjunto habitacional vertical feio de dar dó. Aqui reina a Camorra, máfia das mais desumanas daquele país de sangue quente.

O filme de Matteo Garrone carrega nas tintas. Um soco no estômago. Com um estilo meio documental, o diretor mostra como as pessoas pobres daquela periferia napolitana são reféns da violência e do medo. Scampia é o maior território de venda a céu aberto de drogas. Um mundo a parte. Lembra um pouco os morros do Rio de Janeiro comandados pelos traficantes. Só que sem um pingo de poesia, com mais virulência e sem a maravilhosa paisagem do mar para dar um refresco.
Segundo os créditos finais do filme, a Camorra mata um indivíduo a cada três dias. Mortes descaradas e esperadas. São jovens, mães, adultos e crianças corrompidas. Alguns conseguem escapar do olho grande e da vigilância dos mafiosos. Muitos poucos. Quem trai a organização, que se fortalece com o tráfico de drogas pesadas e até o negócio de aterros clandestinos para lixo radioativo, tem destino cruel, como são as imagens de Gomorra. A polícia pouco consegue fazer. Uma batidinha aqui, outra acolá. A força da mafia de Nápoles é maior e mais aterrorizante.

Com luz natural(algumas das cenas são filmadas com pouquíssima iluminação ou até nenhuma), o filme é perturbador, principalmente pela falta de perspectiva de pessoas que vivem à margem da felicidade. Acompanhar as cinco histórias paralelas que Gomorra oferece é dar de cara com uma realidade que poucos conhecem. O mundo é cruel. E nesse caso específico, não tem Natal que arrefeça a aridez mostrada nesse longa. É preciso ter disposição e sangue de barata para não ficar mexido com o filme. Recomendado para quem quiser ver o lado escuro de uma Europa, o outro lado de um continente que não é só cartões postais e prosperidade.

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