domingo, 22 de novembro de 2009

A vez dos desacelerados

Eles não são chegados em barulho, microfonia, guitarras no talo ou baterias desesperadas. Andam em marcha lenta, buscando a economia de sons, tentando convencer todos de que o mundo é mais bonito se desaceleramos. Os especialistas já deram nome a essa “síndrome” na música: lo-fi, abreviação para Low Fidelity, ou baixa fidelidade. E o que era uma opção estética de trabalhar com gravação caseira, sem os recursos de estúdio, virou estilo, um tipo de música serena, minimalista e sem sobressaltos, que tem no indie rock da ótima Wilco, uma de suas melhores e mais conhecidas representantes. E essa é a tradução exata para a sonoridade da banda Real Estate que colocou no mercado o seu primeiro disco, que leva o nome do grupo, um exercício de delicadeza e sobriedade.

Real Estate(Selo Woodsist, Underwater Peoples, Half Machine, 2009), o álbum, abusa da guitarra acústica e cordas dedilhadas, da bateria repetitiva e hipnótica para espelhar cenas de um cotidiano sereno. O nome das músicas do CD já adiantam um pouco esse ritmo interno das canções que acabam refletindo-se também nas melodias. “Nadadores de Piscinas”, “Lago Negro”, “Rio Verde”, “Dias de Neve”, os títulos transportam o ouvinte para situações de plena calmaria e descanso. Orgânicas, as composições do disco de estréia desses garotos norte-americanos cheiram a primavera e dias de sol, seguindo a cartilha do folk, ou melhor seria dizer, nesse caso, tentando achar uma definição mais exata, neo-folk com pitadas de psicodelismo, no qual a melodia se sobrepõe ao aparato técnico e efeitos sonoros, criando sensações na alma de quase letargia. Tudo realmente muito delicado e sensível, bom de se ouvir em momentos relaxantes, um fundo musical para se contrapor a correria dos nosso dia-a-dia.

Dezenas de outras bandas atualmente caminham na mesma praia do Real Estate. São herdeiros privilegiados dos anos 60 e 70, décadas preciosas e pioneiras em que a arte de gente prá lá de talentosa, como Joni Mitchell, Joan Baez e Van Morrison, só para ficar nos básicos, enriqueceram o folk rock, incorporando elementos modernos ao gênero. Os novos se permitem misturar ainda mais referências, munidos ainda das invenções musicais que surgiram de lá para cá. E o casamento folk, pop e psicodelia é hoje um dos preferidos dessa turma. Nessa direção, a galera de New Jersey, cevada no Brooklin, e que tem a frente Matt Mondanille (mais conhecido como integrante da banda Ducktaills), possui um senso real de direção, um equilíbrio e clareza musicais que vão ajudar a banda a evoluir, a meu ver, para uma sonoridade mais consistente.

É essa serenidade e equilíbrio do debut que transparecem em melodias bem construídas e com ares nostálgicos, como “Beach Comb” e “Pool Swimmers”, com a utilização enxuta de violão e guitarra, fazendo a cama para composições objetivas e suaves. As vozes, tão lo-fi quanto as músicas, coabitam com a instrumentação minimalista nos arranjos extremamente simples, como se fossem apenas mais um outro instrumento qualquer. A pop “Green River”, uma das melhores do disco, reforçam esse folk latente do grupo, com seu pandeiro, violão animadinho e coro alegre, como se tivesse saída de outros tempos, de dias mais inocentes e esperançosos. Na mesma linha, a bela “Snow Days” é mais bem resolvida melodicamente, fechando muito bem o álbum.

A opção pelos arranjos e execução dos instrumentos minimalistas nos leva a ter a sensação de que as músicas se parecem uma com as outras. É preciso ouvir Real Estate com cuidado e paciência para perceber as diferenças. A impressão é de que o grupo, com esse primeiro trabalho, está ensaiando algo maior, que reverbere mais. É possível sentir inconsistência e fragilidade em algumas músicas como em “Suburban Dogs” ou em “Fake Blues”, que, de Blues realmente, não tem nada, mas há lampejos de criatividade e talento como nas canções citadas no parágrafo anterior. Um trabalho em tom menor e claramente despretensioso(não espere encontrá-lo na lista de revelações do ano), mais uma estréia com bons achados que me faz apostar num futuro promissor para essa galera. Vou pagar pra ver.

Cotação: 3

Confira o som dos suburbanos de Nova Jersei:

http://www.mediafire.com/?nmjdq3yw1iz

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